quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Copy: Carta aberta à Renato Aragão

Existem certas opiniões que eu tenho que chocam, porque "vão contra a
cidadania". É muito bom ver pessoas inteligentes que pensam como eu.

Eu só acrescentaria, no lugar de "estão jogando fora, ou aplicando muito
mal" o texto: Os administradores públicos deste dinheiro estão embolsando,
pagando amantes e gastos faraônicos, roubando mesmo, de nós contribuintes!!!

Vejam a íntegra:

Quinta, 23 de agosto de 2007.

Querido Didi,
Há alguns meses você vem me escrevendo pedindo uma doação mensal para
enfrentar alguns problemas que comprometem o presente e o futuro de muitas
crianças brasileiras. Eu não respondi aos seus apelos (apesar de ter gostado
do lápis e das etiquetas com meu nome para colar nas correspondências).

Achei que as cartas não deveriam sem endereçadas à mim. Agora,
novamente, você me escreve preocupado por eu não ter atendido as suas
solicitações. Diante de sua insistência, me senti na obrigação de parar tudo
e te escrever uma resposta.

Não foi por "algum" motivo que não fiz a doação em dinheiro solicitada
por você. São vários os motivos que me levam a não participar de sua
campanha altruísta (se eu quisesse poderia escrever umas dez páginas sobre
esses motivos). Você diz, em sua última carta, que enquanto eu a estivesse
lendo, uma criança estaria perdendo
a chance de se desenvolver e aprender pela falta de investimentos em sua
formação.

Didi, não tente me fazer sentir culpada. Essa jogada publicitária eu
conheço muito bem. Esse tipo de texto apelativo pode funcionar com muitas
pessoas mas, comigo não. Eu não sou ministra da educação, não ordeno as
despesas das escolas e nem posso obrigar o filho do vizinho a freqüentar as
salas de aula. A minha parte eu já venho fazendo desde os 11 anos quando
comecei a trabalhar na roça para ajudar meus pais no sustento da família.
Trabalhei muito e, te garanto, trabalho não mata ninguém. Estudei na escola
da zona rural, fiz supletivo, estudei à distância e muito antes de ser
jornalista e publicitária eu já era uma micro empresária..
Didi, talvez você não tenha noção do quanto o Governo Federal tira do nosso
suor para manter a saúde, a educação, a segurança e tudo o mais que o povo
brasileiro precisa. Os impostos são muito altos! Sem falar dos impostos
embutidos em cada alimento, em cada produto que preciso comprar para minha
família.

Eu já pago pela educação duas vezes: pago pela educação na escola
pública, através dos impostos, e na escola particular, mensalmente, porque a
escola pública não atende com o ensino de qualidade que, acredito, meus dois
filhos merecem. Não acho louvável recorrer à sociedade para resolver um
problema que nem deveria
existir pelo volume de dinheiro arrecadado em nome da educação e de tantos
outros problemas sociais. O que está acontecendo, meu caro Didi, é que os
administradores, dessa dinheirama toda, não tem a educação como prioridade.
O dinheiro está saindo pelo ralo, estão jogando fora, ou aplicando muito
mal. Para você ter uma idéia, na minha cidade, cada alimentação de um
presidiário custa para os cofres públicos R$ 3,82 (três reais e oitenta e
dois centavos) enquanto que a merenda de uma criança na escola pública custa
R$ 0,20 (vinte centavos)! O governo precisa rever suas prioridades, você não
concorda?

Você diz em sua carta que não dá para aceitar que um brasileiro se
torne adulto sem compreender um texto simples ou conseguir fazer uma conta
de matemática. Concordo com você. É por isso que sua carta não deveria ser
endereçada à minha pessoa. Deveria se endereçada ao Presidente da República.
Ele é "o cara". Ele tem a chave do cofre. Eu e mais milhares de pessoas só
colocamos o dinheiro lá para que ele faça o que for necessário para melhorar
a qualidade de vida das pessoas.

No último parágrafo da sua carta, mais uma vez, você joga a
responsabilidade para cima de mim dizendo que as crianças precisam da
"minha" doação, que a "minha" doação faz toda a diferença. Lamento discordar
de você Didi. Com o valor da doação mínima, de R$ 15,00, eu posso comprar 12
quilos de arroz para alimentar minha família por um mês ou posso comprar pão
para o café da manhã por 10 dias.

Didi, você pode até me chamar de muquirana, não me importo, mas R$
15,00 eu não vou doar. Minha doação mensal já é muito grande. Se você não
sabe, eu faço doações mensais de 27,5% de tudo o que ganho e posso te
garantir que essa grana, se ficasse comigo, seria muito melhor aplicada na
qualidade de vida da minha família.
Você sabia que para pagar os impostos eu tenho que dizer não para quase tudo
que meus filhos querem ou precisam? Meu filho de 12 anos quer praticar tênis
e eu não posso pagar as aulas que são caras demais para nosso padrão de
vida. Você acha isso justo? Acredito que não. Você é um homem de bom senso e
saberá entender os
meus motivos para não colaborar com sua campanha pela educação brasileira.

Outra coisa Didi, mande uma carta para o Presidente pedindo para ele
selecionar melhor os professores. Só escolher quem de fato tem vocação para
o ensino. Melhorar os salários, desses profissionais, também funciona para
que eles tomem gosto pela profissão e vistam, de fato, a camisa da educação.
Peça para ele, também, fazer escolas de horário integral, escolas em que as
crianças possam além de ler, escrever e fazer contas, possam desenvolver
dons artísticos, esportivos e habilidades profissionais. Dinheiro para isso
tem sim! Diga para ele priorizar a educação e utilizar melhor os recursos.

Bem, você assina suas cartas com o pomposo título de Embaixador
Especial do Unicef para Crianças Brasileiras e eu vou me despedindo
assinando...

Eliane Sinhasique - Mantenedora Principal dos Dois Filhos que Pari
P.S.: Não me mande outra carta pedindo dinheiro. Se você mandar, serei
obrigada a ser mal educada: vou rasgá-la antes de abrir.


__________ NOD32 2491 (20070830) Information __________

This message was checked by NOD32 antivirus system.
http://www.eset.com

Nenhum comentário: