terça-feira, 25 de março de 2008

Trocando em miúdos

Ela acorda com a sensação de calma e paz, de não ter que sair à procura, para saber onde está, o que faz, dar o bom dia obrigatório, e cuidar do café da manhã, como todas as manhãs, salvo aquelas que não o fez e assim foi de alguma maneira, castigada. Lembra que pode se deixar levar pelo seu temperamento, e ficar calada, não tem mais a obrigação de olhar, falar, pegar, tocar, dizer e fazer. Olha a janela, belo dia faz lá fora, e lembra das leituras em internetês que empreendeu na noite anterior, e sente-se, mais que ontem, como a música "trocando em miúdos", do Chico Buarque. E a leve impressão de que já foi tarde. Sabe que não faria falta sua presença, pois ao contrário de Caetano, não tem uma presençamorenaqueseespalhepeloscantos. Sabe não fazer falta, sabe-se nunca amada, porém sempre querida, como se um peqeno querer bastasse à sua existência, cheia de erros e acertos, mais aqueles que estes. E pensa: Pro almoço, posso, se quiser, e quero: Fazer uma bela macarronada.
E só.


Chico Buarque - Trocando Em Miúdos (MPB)

Eu vou lhe deixar a medida do Bonfim
Não me valeu
Mas fico com o disco do Pixinguinha, sim?
O resto é seu

Trocando em miúdos, pode guardar
As sobras de tudo que chamam lar
As sombras de tudo que fomos nós
As marcas de amor nos nossos lençóis
As nossas melhores lembranças

Aquela esperança de tudo se ajeitar
Pode esquecer
Aquela aliança, você pode empenhar
Ou derreter
Mas devo dizer que não vou lhe dar
O enorme prazer de me ver chorar
Nem vou lhe cobrar pelo seu estrago
Meu peito tão dila cera do

Aliás, Aceite uma ajuda
do seu futuro amor
Pro aluguel
Devolva o Neruda que você me tomou
E nunca leu

Eu bato o portão sem fazer alarde
Eu levo a carteira de identidade
Uma saideira, muita saudade
E a leve impressão de que
já vou tarde...

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