quinta-feira, 23 de junho de 2011

A idade e a mudança

Texto da Lya Luft

Mês passado participei de um evento sobre o Dia da Mulher.
Era um bate-papo com uma platéia composta de umas 250 mulheres de
todas as raças, credos e idades.

E por falar em idade, lá pelas tantas, fui questionada sobre a minha
e, como não me envergonho dela, respondi.
Foi um momento inesquecível...
A platéia inteira fez um 'oooohh' de descrédito.

Aí fiquei pensando: 'pô, estou neste auditório há quase uma hora
exibindo minha inteligência, e a única coisa que provocou uma reação
calorosa da mulherada foi o fato de eu não aparentar a idade que
tenho? Onde é que nós estamos?'

Onde não sei, mas estamos correndo atrás de algo caquético chamado
'juventude eterna'. Estão todos em busca da reversão do tempo.
Acho ótimo, porque decrepitude também não é meu sonho de consumo, mas
cirurgias estéticas não dão conta desse assunto sozinhas.

Há um outro truque que faz com que continuemos a ser chamadas de
senhoritas mesmo em idade avançada.
A fonte da juventude chama-se "mudança".

De fato, quem é escravo da repetição está condenado a virar cadáver
antes da hora.

A única maneira de ser idoso sem envelhecer é não se opor a novos
comportamentos, é ter disposição para guinadas.
Eu pretendo morrer jovem aos 120 anos.

Mudança, o que vem a ser tal coisa?

Minha mãe recentemente mudou do apartamento enorme em que morou a vida
toda para um bem menorzinho.
Teve que vender e doar mais da metade dos móveis e tranqueiras, que
havia guardado e, mesmo tendo feito isso com certa dor, ao conquistar
uma vida mais compacta e simplificada.
Rejuvenesceu.

Uma amiga casada há 38 anos cansou das galinhagens do marido e o
mandou passear, sem temer ficar sozinha aos 65 anos.
Rejuvenesceu.

Uma outra cansou da pauleira urbana e trocou um baita emprego por um
não tão bom, só que em Florianópolis, onde ela vai à praia sempre que
tem sol.
Rejuvenesceu.

Toda mudança cobra um alto preço emocional.
Antes de se tomar uma decisão difícil, e durante a tomada, chora-se
muito, os questionamentos são inúmeros, a vida se desestabiliza.
Mas então chega o depois, a coisa feita, e aí a recompensa fica
escancarada na face.

Mudanças fazem milagres por nossos olhos, e é no olhar que se percebe
a tal juventude eterna.

Um olhar opaco pode ser puxado e repuxado por um cirurgião a ponto de
as rugas sumirem, só que continuará opaco porque não existe plástica
que resgate seu brilho.

Quem dá brilho ao olhar é a vida que a gente optou por levar.
Olhe-se no espelho...

Um comentário:

Anônimo disse...

Lindo, brilho no olhar. Tem muitas modelos jovens por aí sem brilho no olhar. Enquanto isso muitas jovens de 120 com o olhar de chama viva, pois souberam levar bem a vida.
marcos leal